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RAÚL GÓMEZ PATO
( GALÍCIA )
Nasci em Velle, perto de Ourense e do Minho, no outono de 1966, em plena colheita, no seio de uma família de comerciantes e um pouco nómada, porque o meu avô tinha sido canalizador e, mais tarde, quando decidiu dedicar-se à venda e reparação de relógios e jóias, banca de mercado.
Iniciei-me na vida literária frequentando as feiras de toda a Galiza acompanhando o meu avô e o meu tio Miguel, e também, claro, na mercearia que a família possuía em Velle (e que, hoje convertida em bar, é ainda administrado pela minha mãe).
Assim, desde o início, sou enólogo, comerciante e garçom, e apaixonado por futebol e relógios.
Estudei Filologia Clássica e comecei a escrever livros e a traduzir o que os outros escreviam para aquela nossa língua saborosa que, quando criança, ouvia de feira em feira.
Publiquei como poeta Chuva, vapor e velocidade (1999), A casa desabitada da família Pena (2001), Verba quae supersunt (2003) e Tratado de zoologia para corações aleijados (2009); e, como tradutor, Libellus de natura animalium (1999), Songs and Fragments of Sappho (2008) e Unha rosa incarnada, Robert Burns Anthology (2014).
Também ganhei o Primeiro Prêmio de Poesia Xosé María Díaz Castro com o livro Máscaras de espellos (2016).
Participei de vários volumes coletivos e sinto tanto orgulho disso quanto dos meus livros individuais, pois minha participação sempre foi em prol de causas boas e generosas.
Vivo ensinando latim e grego no IES de Valga e adoro isso.
TEXTOS EM GALEGO - TEXTOS EM PORTUGUÊS
ARRINCANDO MARCOS 2019: Estévez, Paula Carballeira, Quico, Raúl Gómez Parto, Roi Vidal, Rosalia Fernández Rial, Suso Díaz, Xavier Xil Xardón. Santiago de ompostela, Galicia: Edicions Positivas, 2019. 87 p. ISBN 978-84-949336-8-4 No.10 887 Exemplar Biblioteca de Antonio Miranda
Os espellos opacos non reflicten a figura
do ser humano con exactitude.
Transmiten con erros o pasado
cando nos miramos neles
e rara vez atinan o que mañá sucederá.
O por que nos contemplamos neles a diario
é um mistério que ten que ver coa realidade
das armaduras desbastadas ante a morte,
dunha cobiza de recuar cara o sur
e de enganar os compasses cos reflexos.
De Circulo, 2019
DISCUSIÓN
Lembrar os defuntos,
recordalos nas imaxes custodiadas no faiado.
Non volverán disputarnos o don da palabra, do verso.
Poderemos estibar tranquilos a nosa vida.
Eles gozaron da oportunidade marcharon
arroupados polo
mutismo
coma mendigos abrigados com xornais nas
madrugadas polares
das vastas, ruidosas urbes. Nin diálogo con eles,
nin com anciáns,
nin com indiscentes. Callou o arrepio no coláxeno
dos ósos.
Tememos mais á morte ca a palabra. Porén, só
esta nos salva.
De Sal auga vinagre, 2019
MAR
Eu afirmei que os sargos teñen mirada incondicional
de amor. As minas pupilas, detidas, quietas, fixas
no teu rostro de felino, ferido, fermoso, funâmbulo.
Eu afirmei que verdadeiramente todas as cousas do
mar
reflicten as túas faccións, espello inmenso.
Mesmo nos peixes, os ollos incruentos, deficientes,
simples,
verten no reflexo da miña retina o que eu percibo,
contemplándote espida sobre o cristal quente da terra,
mentres te aproximas, acaroándote mais ao meu sexo,
esparexendo num sexo o fondo mariño.
De sal auga vinagre, 2019.
SACRIFICIO
O home entrou no território prohibido,
fixo unha libación, estendeu os brazos ao ceo,
pregou aos deuses pola liberación comunal de:
a) o desamor; b) as feridas de guerra; c) a mala
fortuna económica,
Depois cauterizou o fígado da vítima propicia,
repartiu as viandas entre os asistentes,
impou sobre a ara do sacrificio.
Coma um actor en paroxismo
prolongou os polgares, sinalou as moedas,
cuspiu no lousado, evaporou-se.
De sal auga vinagre, 2019.
PULVIS ERIS
escoitamos os ronseis as marcas as pegadas dos
outros
que nos ensinaron a fronteira que franquear para
completarnos a nós mesmos
cara que destino guiaban os antepasados onde
repousan os seus ósos pulverizados
De Máscaras de espellos, 2016
FINGIDOR
este é un sumario de feitos non constatados
probabelmente
non acaecidos o escriba anota na cera co seu
punzón enferruxado
uns anais unha biografia unha gran obra de ficción
totalmente verificabel
De Máscaras de espellos, 2016
COMO CUCO
Que deposita os ovos
En níño alleo,
Lisco as palabras
Para que ti mas coides.
De Choiva, vapor e velocidade, 1999
Tradução de TEXTO EM PORTUGUÊS
Tradução de ANTONIO MIRANDA
Os espelhos opacos não refletem a figura
do ser humano com exatidão.
Transmitem com erros o passado
quando nos miramos neles
e rara vez atingiram o que amanhã acontecerá.
Ou porque nos contemplamos neles diariamente
é um mistério que tem que ver com a realidade
das armaduras espancadas diante da morte,
duma ambição de recuar frente ao sul
e de enganar os compassos com reflexos.
De Circulo, 2019
DISCUSSÃO
Lembrar os defuntos,
recordá-los nas imagens guardadas no sótão.
Não retornarão a disputar-nos o dom da palavra,
do verso.
Poderemos guardar tranquilos a nossa vida.
Eles gozarão da oportunidade eles saíram
embrulhados pelo
mutismo
como mendigos abrigados com jornais nas
madrugadas polares
das vastas, ruidosas urbes. Nem diálogo com eles,
nem com anciãos,
nem com indiscretos. Calou o arrepio no colágeno
dos ossos.
Tememos mais a morte que a palavra. Porém, só
ela nos salva.
De Sal auga vinagre, 2019
MAR
Eu afirmei que os pargos têm mirada incondicional
de amor. As minhas pupilas, detidas, quietas, fixas
no teu rosto de felino, ferido, formoso, funâmbulo.
Eu afirmei que verdadeiramente todas as coisas do
mar
refletem as tuas facções, espelho imenso.
Mesmo nos peixes, os olhos sem sangaue, deficientes,
simples,
vertem no reflexo da minha retina o que eu percebo,
contemplando-te despida sobre o cristal quente da
terra,
enquanto te aproximas, acariciando-te mais ao meu
sexo,
espalhando em um sexo o fundo marinho.
De sal auga vinagre, 2019.
SACRIFÍCIO
O homem entrou no território proibido,
fixo uma libação, estendeu os braços ao céu,
pregou aos deuses pela liberação comunal de:
a) o desamor; b) as feridas de guerra; c) a má
fortuna econômica,
Depois cauterizou o fígado da vítima propícia,
repartiu as alimentos entre os assistentes,
imposto sobre o ditado do sacrifício.
Com um ator em paroxismo
prolongou os polegares, apontou as moedas,
cuspiu na lousa, evaporou-se.
De sal auga vinagre, 2019.
PULVIS ERIS
Escutamos os ronseis as marcas as pegadas dos
outros
que nos ensinaram a fronteira que franquear para
completar-nos a nós mesmos
cara que destino guiavam os antepassados onde
repousam os seus ossos pulverizados
De Máscaras de espellos, 2016
FINGIDOR
este é um sumário de feitos não constatados
provavelmente
não ocorrido o escriba anota na cera com seu
soco enferrujado
uns anais uma biografia uma grand obra de ficção
totalmente verificável
De Máscaras de espellos, 2016
COMO CUCO
Que deposita os ovos
Em ninho estranho,
Risco as palavras
Para que tu as cuides.
De Choiva, vapor e velocidade, 1999
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Página publicada em julho de 2024
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